eu, mulher; e; o espaço, público – 3

Um ensaio sobre a possibilidade política para além de um embate dual: dos docentes “elitistas” e de um grupo dos estudantes “ultra” ou Greve: O espaço do fora e seus desdobramentos no detalhe.

 

[…] ser o sujeito livre e falante e desaparecer como o paciente passivo que atravessa o morrer e que não se mostra […]

Maurice Blanchot

[…] sempre existe um dobra na dobra, como também uma caverna na caverna. A unidade da matéria, o menor elemento do labirinto é a dobra, não o ponto, que nunca é uma parte, e sim uma simples extremidade da linha. […]

Gilles Deleuze

“O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque, pelo que se luta o poder do qual nos queremos apoderar.”

Michel Foucault

 

Este ensaio é sobre os acontecimentos no território da UNIFESP-Guarullhos no ano de 2012. Primeiro o que seria esta universidade expandida pelo estado democrático de direito? Quais são os cálculos feitos pelo soberano que decidiu que o campus de humanidades seria neste local? E o que seria este campus para o todo da UNIFESP? Para atender a quais demandas estatísticas que visam organizar a sociedade? Como este mesmo soberano lhe dá com uma ação política que visa romper com seus projetos e que foge do entendimento lógico-juridico?

Bem sabemos que nessas últimas três décadas ocorreram uma “democratização do ensino público” desde o ensino fundamental e mais recente em 2009 o ensino médio enquanto uma modalidade de ensino obrigatória. Não vamos discutir as várias nuances deste projeto, mas nele esta subescrito que todas as pessoas devem passar por mais de onze anos na educação escolar obrigatoriamente. Inclusive junto aos níveis de formação se coloca a ideia da entrada no mercado de trabalho. Então o projeto de neodesenvolvimento neste momento atrela a educação e trabalho com bases fundamentais que a sustentam.

E é na lógica deste território da nação em que se articula a expansão do ensino superior aonde a UNIFESP de Guarulhos esta localizada. Esta instituição aparece como isolada, ou seja, é um espaço, um território em si que parece esta desconectada deste projeto, portanto, se configura como poder disciplinar que forma os corpos dóceis[1] a ser parte do sistema produtivo que resolverão as doenças frequente nos habitantes de uma região ou localidade. Quais seriam as endemias que o campus de humanas poderia solucionar aqui no bairro Pimentas que neste momento enfrenta problemas de urbanização?

E no interior deste corpo disciplinar, neste dispositivo, na instituição administrativa a UNIFESP de Guarulhos no campus de humanas, que estudantes vão resistir a esse projeto desde 2007. Com lutas através de greve estudantil em resistência na lógica jurídica de greve. E também com ocupação que em 2007 levaram a 46 estudantes presos. E em 2012 também com greve e ocupação. No entanto em 2012 algumas coisas criam rupturas com esse sistema lógico-juridico que foram a derrubadas de muros a ocupação que a público o conhecimento do dispositivo de justiça e de segurança, o direito e a policia militar, acionado pelos gestores deste órgão que com a violência legitima do estado fazem a reintegração de posse da direção acadêmica levando mais 48 estudantes presos. E depois a uma entrada no mesmo campus atirando com balas de borracha e bombas em estudantes que foram feridos e levados presos novamente.

E neste momento de ruptura com a lógica-juridico que no público acorreu uma legitimação da luta do movimento estudantil e suas pautas ao mesmo os documentos no interior desta luta disputam o poder saber de duas categorias que acontece desde os marcos da mobilização  no dia 22 de março quando os estudantes da UNIFESP Guarulhos aprovam greve na assembleia geral assim demonstram os boletins dos grupos que compõe o movimento estudantil como o blog da greve. Nesses documentos encontramos a pauta de infraestrutura, que diz sobre um prédio definitivo para o campus. E pedidos de apoio para os docentes e funcionários também se mobilizarem entorno desta demanda mesmo porque esta se trata da precariedade das condições de trabalho também.

Neste momento muitas discussões são realizadas no interior desta universidade como o ciclo de conversações, Pimentas e UNIFESP: Entre o “eles” e os “outros”, o “nós”, realizado pelo coletivo entre outros grupos, coletivos, partidários ou não iniciam uns vários debates em torno as questões desta mobilização

Muitos documentos relatam os problemas de infraestrutura do campus, as condições precárias de trabalho e de estudo referente ao bandejão, a biblioteca e as dificuldades que os estudantes enfrentam no acesso e principalmente permanência na universidade. Assim como críticas a relação entre docentes e estudantes na proposta político pedagógica do campus que não conseguem abarcar a realidade desta universidade.

Após essa assembleia os docentes deste campus votaram iniciar no dia 12 de abril por uma paralisação por tempo determinado de uma semana e se organizaram em GTs para discutir os problemas da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas após uma semana o corpo docente discutiu nos GTs alguns problemas referentes à comunicação e mobilização, gestão e transparência, acesso e permanência e espaço físico. Mas votaram sair da paralisação.[2] E logo depois os estudantes em assembleia decidem permanecer em greve no dia 18 de abril e realizar articulações intercampi da UNIFESP.

Os estudantes foram em marcha até a reitoria entregar a pauta de greve do campus de Guarulhos e que ele atendesse o movimento para negociar. Quando os estudantes chegaram à reitoria encontraram com um cordão da tropa de choque no portão da frente. E ficaram por mais de seis horas aguardando o reitor a descer para dialogar com os estudantes até o fim da tarde e esse dialogo não aconteceu. Alguns docentes apareceram no último instante deste ato entre estes estava a Soraia[3].

Ao mesmo tempo os estudantes no interior do campus recebem noticias de que a “ direção da EFLCH, campus Guarulhos da UNIFESP” enquadra como “depredação do patrimônio público” a re-utilização de tapumes velhos, que estavam jogados e alguns no entorno do espaço aonde seria a construção do “novo prédio”, que os estudantes batizaram de Espaço de Vivência Carlos Marighella. Assim como a utilização do email institucional para realizar uma petição de fim de greve. Inclusive cartas que o comando de greve recebia que dizia que qualquer um poderia ser julgado como comendo de greve e pagaria uma multa de 30 mil diárias caso acontecesse uma ocupação na reitoria. A congregação neste momento afirmava que estava trabalhando para que processos administrativos e criminais fossem abertos contra estudantes que participam de piquetes.

Neste momento a um acirramento no interior da universidade onde parte dos docentes e  partes dos estudantes compreendem não fazerem parte da mesma luta. E visto que no interior da universidade são esses mesmos docentes que tem algum tipo de poder. Esses decidem contrária a decisão de greve da assembleia do movimento estudantil, entram em sala e realizam chamadas de aula e do outro lado os estudantes devem fazer piquetes para garantir que a decisão da assembleia estudantil seja levada em consideração.

E os estudantes continuam em greve e não conseguem dialogo nem com a diretoria acadêmica, nem com a reitoria e passam a ser criminalizados tanto pela gestão da UNIFESP assim como por alguns dos professores. E nesse momento os estudantes optam por ocupar a diretoria acadêmica. Mesmo assim não conseguem dialogo com nenhuma das duas instâncias de gestão. Foi realizado uma audiência pública onde representante do MEC (Ministério da Educação) e o Reitor Walter Albertoni foram convidados, mas não comparecerão.

Logo depois estoura a greve nacional e então muita dos documentos estão direcionados a que o Estado se pronuncie em relação à demanda nacional dos docentes. Os docentes da UNIFESP de Guarulhos demoraram a entrar em greve.

Após 70 dias em greve os estudantes em assembleia votam por ocupação novamente entendendo que os:

“Temas como moradia estudantil, creche, reforma do Restaurante Universitário o bandejão, fim dos processos contra os 48 estudantes processados, paridade etc. sequer foram mencionados, o que deixa mais nítido a lentidão ou negligência por parte da instituição UNIFESP. Para confirmar o descompromisso com a situação do nosso campus e aos demais, a Reitoria da UNIFESP se negou a comparecer à Audiência Pública proposta pelo movimento estudantil, no dia 21 de maio, alegando que os problemas da instituição deveriam ser resolvidos internamente, respeitando à autonomia universitária. No entanto, isso se torna contraditório quando o Reitor se nega a vir ao campus para negociar com o movimento estudantil, dialogando em forma de comunicados ou pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis. Questionamos também que autonomia universitária é essa, que ignora todos os processos decorrentes em nível nacional, legitimando um modo de gestão intransigente ou até mesmo chamando a PM para o Campus.”[4]

 

Nesta ocupação a Justiça foi acionada para realizar uma reintegração de posse e acionou a Policia Militar a entrar no campus e retirar os estudantes da diretoria acadêmica. E os policias cumprem a ordem judicial de reintegração de posse:

 

“A retomada do prédio foi determinada pela 1ª Vara da Justiça Federal de Guarulhos. Para os magistrados, os documentos enviados pela Unifesp comprovam que foram adotadas providências para sanar as falhas do campus apontadas pelos alunos em 2010, durante um protesto que paralisou a unidade por 46 dias. A Justiça Federal entendeu que parte das reivindicações – como início da construção do prédio central do campus, moradia para estudantes, melhoria na alimentação e no transporte – já está sendo atendida.”[5]

 

Nada tinha sido atendido e nenhuma medida tinha sido tomada pela gestão da universidade em solucionar os problemas que os estudantes levantavam e 43 estudantes ficaram presos no prédio da policia federal da Lapa. E o mesmo Juiz que tinha indeferido o pedido de reintegração de posso em uma semana determinou na outra semana a reintegração[6]. Após algumas semanas deste acontecimento os estudantes em manifestação em frente a direção acadêmica e mais uma vez Policiais Militares são chamados ao campus de Guarulhos e desta vez atiram com bala de borracha e bombas de gás nos estudantes levando a alguns estudantes a se ferirem e mais estudantes foram presos novamente.

Após a todos esses acontecimentos essas questões quase que “desaparecerão” da universidade. Passaram a aparecer em artigos de revistas de alguns docentes que demonstram que a crise desta universidade esta ligada com a sua localidade, ou seja, que o problema é porque esta universidade esta no bairro Pimentas. Assim como a mídia propõem que foi instalado nesta universidade um “caos dizendo que esquerdistas começam a bater cabeça”[7] Que associa o ato político dos estudantes há “banditismo” . E que faz tentativas de associação deste movimento que fez um ato na paulista e logo depois soltam uma nota “Suposto estudante é preso em manifestação de alunos da UNIFESP: Rapaz dói atuado em flagrante, fumando cigarro de maconha”[8]. Assim como as noticias sobre a UNIFESP se organizavam em torno de uma noticias de “caos”, “ruim” na entrada de noticias de educação sobre campus Guarulhos e suas precariedades e noticias sobre o bom funcionamento das pesquisas do Campus de medicina e de suas pesquisas importantes para a sociedade que diz “È a doutora em neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), especialista pela sociedade Americana de Medicina do Sono…”[9].

Assim como docentes desta universidade começa focar essa luta em uma crise sobre a localidade e também construir o significado que esta mobilização não foram realizada por estudantes e sim por parditos e grupos de atuação política no bairro como se não fosse possível um sujeito tanto fazer parte destas duas posições de estudante e militante assim como que somente estes estudantes é que fazem parte desta mobilização com a tentativa de deslegitimar os problemas levantados pelo movimento como fez o dossiê[10]. E também outro grupo de docentes que diz: “A policia foi chamada porque esses alunos não respeitam a democracia, a diversidade” argumentando que o ato do dia 14 de junho onde o dispositivo de segurança foi chamado porque os estudantes “estavam cassando o direito de ir e vir dos professores e funcionários”[11] que foi assinado por onze docentes que trocando a palavra de ordem, que geralmente é usada pelo movimento estudantil historicamente, desde a ditadura militar[12]: “Ocupação, ocupação, ocupação” que deriva de “Ocupar, resistir, lutar para garantir” [13], pelo termo “invasão”.

Enfim a questão é que em um momento ocorreu de alguns docentes utilizarem seus saberes para produzir a verdade sobre o que estava acontecendo na unifesp. Alguns argumentam que o problema não é o bairro e que devemos ficar neste local. A congregação organizou um colóquio “ A EFLCH e sua localização”[14] com o objetivo de discutir somente esse tema, colóquio o qual os estudantes receberão falta se não assinassem sua lista de presença e inclusive não tiveram espaço para construir tal discussão de forma conjunta e colaborativa.

Então é neste momento que observamos a luta do movimento estudantil referente ao projeto que se delineia, no interior da universidade, se afunilar em uma ideia de disputa de docentes “elitistas” e estudantes “ultra” no paradigma sair ou não do bairro Pimentas. Dentro da ideia de política dual de amigo-inimigo que ou estamos de um lado ou estamos do outro lado.

E o que ofuscou as discussões sobre o problema da precariedade desta universidade dentro da lógica de neo-desenvolvimento que se configura a partir dos órgãos de gerenciamento de vidas para trabalhar com a educação-mercadoria. Questões que afetam toda a rede da sociedade e que por motivos diferentes afetam as condições de trabalho dos docentes, dos técnicos quanto à formação dos estudantes e o que inclusive inscreve e funda tal categoria e suas funções definidos em alguns momentos como conflitantes uma com a outra.

Este afunilamento que afunila em um embate dual entre docentes “elitistas” com o discurso de retirada do campus no bairro pimentas assim como estudantes “ultra” com o discurso de resistir no bairro com reivindicação assistencialista da universidade para com o bairro. Surge não somente como uma falsa questão, mas como uma precariedade do pensamento em construir em termos políticos uma linha linear de somente duas forças políticas atuantes assim como somente uma binariedade da construção do discurso que somente se produz em polos opostos.

Com tudo essa Ideia sendo efetivados esses discursos produz uma face[15] que virá solucionar o problema. Essa face é o produto da verdade sobre os problemas dos estudantes que não tem voz[16] e a gestão que não é democrática e nem plural que não entende os problemas das categorias que compõe a universidade[17].

Neste sentido a universidade não só atende as endemias previstas do desenvolvimento focado em educação como organiza e classifica os discursos produzidos no seu interior que se constrói como rupturas bio-política que age e multiplica o projeto desenvolvimentista deixando os estudantes viverem no interior de um órgão do poder disciplinar, construir lutas, para que eles possam morrer, ou seja, serem expulsos deste mesmo projeto de educação para o empreendedorismo social.

Esse dispositivo disciplinar gerencia e controla as diversas profissões e profissionais que irão organizar a sociedade cada um com seu saber destinado para cada funcionalidade de acordo com o projeto de um soberano, que decide, sobre a lei.  Seria esse soberano a reitoria ou a diretoria acadêmica deste órgão administrativo?  Como se daria essas mesmas questões no fora deste dispositivo disciplinar, a  universidade? A face da Soraia que surge como a solução dos problemas da UNIFESP que aguça, captura, engoli pautas de reivindicações que a principio são de resistência e se forma em objetivo de gestão não lembra de alguma outra face “Como nunca antes na história deste país”?

E as questões levantadas e construída pelo movimento estudantil desde 2007 sobre a precariedade de ensino público superior construído pelo estado será que uma gestão da universidade pode resolver? Para os que acreditam nisso com certeza votaram na chapa 3 para reitoria. O que enuncia a chapa três para a gestão da UNIFESP e a chapa “Vez da Voz” para o movimento estudantil institucionalizado? O que esta em jogo neste momento interrompeu a real discussão política. Alguns estudantes estão prestes a ser expulsa deliberação da comissão de sindicância/disciplinar ou ocorrera neste caso uma perversa “descentralização de poder” a congregação decidir? Quem decide sobre a morte de tais estudantes? Neste caso saberemos quem é o soberano?

O que podemos ter certeza já é que esta face decisória é sem dúvida democrática!  Seria nossa pauta, a dos estudantes, lutar e pedir a retirada de uma gestão, no interior desta universidade? O quão efetivo lutamos a favor das nossas pautas e dos nossos problemas no interior de um dispositivo disciplinar? Deveríamos nós nos apropriar das ferramentas de poder das classes dominantes, o saber, ao invés de minar este como espaços já precários pelos mesmos que estão por aqui por falta de espaço na USP? O que é esta expansão se não uma forma de gerar trabalho aos doutores que a USP produziu nos últimos anos?  Será isso democratização do sistema público de educação do ensino superior ou possibilidade de trabalho para aqueles bem formados sem emprego, como por vezes demonstraram as crises de um desenvolvimento da educação em relação ao mercado de trabalho sempre escasso e competitivo?

[1]
Foucault, Michael. Vigiar e Punir

[2]
http://greveunifesp.wordpress.com/boletins-diarios-sobre-a-mobilizacao-de-docentes/  (retirado no dia 25/11/2012.)

[3]
Que depois de alguns meses aparece como a face de uma nova gestão para a reitoria tema que será abordado no últimos momentos deste ensaio.

[4]
http://greveunifesp.wordpress.com/2012/05/25/carta-aos-docentes-da-eflchunifesp-reunidos-em-assembleia-geral-do-dia-24-de-maio/. (retirado do site no dia 14/11/2012).

[5]
http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/pm-cumpre-reintegracao-de-posse-no-campus-da-unifesp (retirada no dia 14/11/2012).

[6]
http://greveunifesp.wordpress.com/2012/06/07/onibus-camburao-da-unifesp-leva-43-estudantes-presos-em-reintegracao-de-posse/ (retirada no dia 14/11/2012).

[7]
[5]  http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/caos-se-instala-em-campus-de-faculdade-federal-e-esquerditas-comecam-a-bater-cabeca-direcao-pede-socorro-a-pm-mas-tenta-negar-pedido-bem-entao-vamos-ouvir-as-gravacoes-certo-nada-como-matar-a-c/ (retirada no dia 14/11/2012).

[8]
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,suposto-estudante-e-preso-em-manifestacao-de-alunos-da-unifesp,888072,0.htm (retirada no dia 14/11/2012).

[9]
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/todas-as-criancas-que-roncam-frequentemente-devem-passar-por-triagem-para-apneia-do-sono (retirada no dia 14/11/2011)

[10]
Sem nome . (27de setembro. 2012). www.cartacapital.com.br. Acesso em 20 de 10 de 2012,  disponível na Revista Carta Capital:  http://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2012/07/dossie-sobre-a-crise-da-eflch-unifesp-e-o-bairro-dos-pimentas.pdf.

[11]
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/ana-nemi-a-policia-foi-chamada-porque-esses-alunos-nao-respeitam-a-democracia-a-diversidade.html (retirada no dia 14/11/2012).

[12]
http://www.marxismo.org.br/?q=content/juventude-e-ditadura-militar-de-64

[13]
http://alceucastilho.blogspot.com.br/2012/06/onibus-camburaoda-unifesp-leva-43.html (retirado no dia 26/11/2012)

[14]
http://humanas.unifesp.br/home/index.php/academico/eventos/debate-sobre-localizacao-da-eflch/804-a-eflch-e-sua-localizacao. (retirado do site no dia 14/11/2012).

[15]
Butler. Judith. Vida Precária. Dossiê Diferenças e (des)igualdades. Contemporânea n.1 P. 13-33. Jan-Jun. 2011

[16]
http://chapavezdavoz.wordpress.com/, chapa de estudantes construída no final de greve com o objetivo “ouvir, de fato, o conjunto dos estudantes, e fortalecer o DCE como instrumento de organização do Movimento.”

[17]
Como diz o panfleto da chapa 3, candidata, e agora eleita: http://unifesppluraldemocratica.wordpress.com/ “UNIFESP Plural e Democrática, precisamos cuidar do dia a dia da universidade, ter uma gestão efetiva, dar agilidade às decisões e articular conhecimentos para solucionar problemas internos e externos. Todos os campi, departamentos e setores acadêmicos e administrativos devem ter condições dignas de desenvolver seus planos e projetos, de forma transparente e colaborativa, contribuindo para a qualificação da instituição e da sua vida acadêmica”

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eu, mulher; e; o espaço, público.

Esta fala terá observações da participação da mulher nos espaços de participação politica no âmbito do movimento estudantil. Retomando a luta de mulheres nos anos 70 no Brasil na reinvindicação por creches. Partindo da conjuntura da UNIFESPIMENAS, campus que o movimento estudantil luta no contra fluxo das politicas públicas como o REUNE que prevê expansão do ensino superior com pouco financiamento para responder a demanda de luta dos movimentos populares na periferia, por uma universidade. Com tudo nessa mesma mobilização muito legitima do movimento estudantil as mulheres enfrentam problemas na sua participação e na legitimidade de pautas reconhecidas como das mulheres, a creche.

Nos cadernos da “ A nossa história 1” realizado pela associação das mulheres e associação das donas de casa em Junho de 79 podemos perceber que na sua capa se evidencia pautas como a creche, igualdade no trabalho e no salario, e liberdade de organização. Neste em história em quadrinhos podemos perceber que o movimento buscava desde uma ruptura e transição da mulher no âmbito privado, domestico onde trabalhavam cotidianamente sem remuneração e nem reconhecimento disto enquanto um trabalho. Para o âmbito público das fabricas e do mundo do trabalho. Neste contexto foi construída uma luta por igualdade para disputar e ocupar os espaços que historicamente foram construídos como espaços legítimos dos homens.

Na obra da Simone de Beauvoir em 45 no seu livro “Segundo Sexo” uma de suas frases e das mais importantes para a construção do movimento feminista foi “Não se nasce mulher, torna-se” é nessa base que se inicia uma discussão de gênero problematizando, a mulher, como um sujeito culturalmente construído. Neste sentido entra o debate de empoderamento da mulher na disputa por equidade, ou seja, visto que ocupamos os mesmos espaços em proporção quantitativa precisamos conquistar o mesmo poder e a mesma legitimidade. Homens e mulheres se fazem presente nos espaços do mundo de trabalho. No entanto há uma divisão sexual do trabalho onde mulheres estão ligadas a profissões relacionadas aos cuidados que por sua vez são desvalorizadas, exemplo, a profissão docente, da enfermagem, em contrapartida os homens estão mais inseridos nas profissões que são mais valorizadas. Além disso, encontramos em maior quantidade homens nos espaços públicos de evidencia do que as mulheres, em cargos de poder e etc…

Essa abordagem na Simone e nessa problemática do mundo de trabalho e de empodermento da mulher, são os discursos que encontro mais vigentes nos espaços que eu circulei dos movimentos feministas que estão ligadas a uma concepção de luta por direitos.

Mas sei que tanto na literatura feminista como nos diversos movimentos que existem há outras vertentes que são a questão do reconhecimento da Nancy Fraser, os problemas da naturalização discursiva sobre o sexo evidenciados da Judith Butler. E como essas questões vão sendo abordadas ou não pelos movimentos sociais, sociedade civil e politicas de forma geral, e mais o quanto a literatura retrata as questões e problemas sociais pertinentes.

Com tudo acho que claro além de beber tais fundamentais e experiências anteriores registradas acredito na importância de fazermos a leitura das nossas questões que apesar de parecerem claras e obvias, observando podemos entender alguns entraves. Nesse momento que estamos em GREVE, momento de paralisação das atividades, pois existe uma serie de fatores necessários que precisamos reivindicar no espaço da universidade a garantia do direito à educação de qualidade, um dos eixos desta pauta de reinvindicações do movimento estudantil a principio foi à creche. Após alguns dias de construção da GREVE um grupo de mulheres estudantes preocupadas com a possibilidade da retirada das creches enquanto pauta de reivindicação organizaram este debate, pois essa demanda é muito cara para as mulheres principalmente as que têm filhos, meu caso.  O que gostaria de provocar nesse sentido é porque numa construção coletiva, na universidade em greve (local onde supostamente estamos refletindo o processo, caminho pelo qual estamos construindo e percorrendo coletivamente). Porque a retirada da creche enquanto pauta foi uma questão somente de mobilização de mulheres? (É claro já sei alguns homens o fizeram nos espaços das assembleias dos cursos) mas em sua grane maioria foram às mulheres sensibilizadas pela temática. Será que os homens ou mesmo mulheres que não tem filhos não podem se preocupar com esse tal direito especifico que deve ser garantido pela universidade? As pessoas devem lutar somente pelo o que lhes convém ou interessam?

E visto que levantando esta questão estou abordando numa questão que vem sendo recentemente abordada por pensadoras, por exemplo, sabemos que recentemente a luta dos movimentos sociais tem se apresentado pelas suas demandas especificas LGBTT, feministas, étnicas, de juventude e etc. E então fazem o discurso da fragmentação das lutas sociais, supondo que cada um irá lutar, militar dentro do que esta mais próximo das suas questões, desejos, identidade enfim. Nesse caso esta implícito o que? Os direitos de mulheres deve ser uma luta das mulheres, os direitos dos negros, indígenas, quilombolas devem ser lutas dos negros, indígenas e quilombolas. A luta do movimento LGBTT deve ser realizada pelas lésbicas, gays, bixessuais , travestis e etc. No entanto todos esses grupos são minorias, não minorias em quantidade. São grupos que não são reconhecidos pelo sujeito e discurso vigente que é do homem, heterossexual, branco. Então a responsabilidade é desse ultima persona citada?
Não, também porque a questão é discursiva e da linguagem, nas leis, nas estruturas politicas, no pensamento, nos espaços de participação.

Voltando a questão da educação, a creche não é um direito que deve ser conquistado essa luta já aconteceu (só para reforçar por mulheres). Esse direito da criança esta expresso desde na declaração universal dos direitos humanos até na constituição federal. Nas Leis de diretrizes e bases da educação Nacional ao Estatuto da criança e do adolescente.  E inclusive no estatuto da própria universidade. Claro nos também reconhecemos os problemas que um estado de direito que guarda dificuldades de execução e armadilhas em suas leis. Afinal como diria Marx “O direito e (eu acrescento) as leis, são os chicotes do capitalista burguês” nesse sentido a não incorporação da creche no suposto projeto do novo prédio vai desde um problema de complexidade entre as competências dos entes federados até um esvaziamento de interesses políticos de aprofundamento desta como uma questão prioritária para o acesos e permanência das mães do campus. Sem visibilidade esta pauta restringe a autonomia das mulheres e o direito à educação das crianças.

Por fim, eu finalizo laçando a proposta de pensarmos juntos, independente, de sexo, de gênero, ou desejo no que diz respeito à maternidade ou paternidade. Transformarmos a pauta da “CRECHE” desde uma pauta politica propositiva de GREVE no que diz respeito ao acesso e garantia do direito humano a educação de qualidade tanto para as crianças como para seus responsáveis estudantes, professores, funcionários e moradores ao entorno do campus. Mas também evidenciar a partir disto os problemas de gênero que circulam entre-nos.

Debate realizado na Greve UNIFESPIMENTAS de 2012 – Os problemas de gênero.
Data: 19/04/2012.
Local: UNIFESPIMENTAS – No Pátio.
Texto: Agnes Karoline

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quanta

Onde toda vida seja importante,
Onde possamos ver, e viver, o humano, em nós.
E a possibilidade de atuar no ambiente, mundo.
Nunca mais respirar ar fétido,
E sim a respiração, quantum

De acordo com o dicionário Aurélio, quantum é:
(quân). [Lat.] S. m. Fís. 1.Quantidade indivisível de energia eletromagnética que, para uma radiação de freqüência f, é igual ao produto h . f, onde h é a constante de Planck. 2. Partícula associada ao campo. {Pl.} quanta.
Respirar trata-se de uma função orgânica, ao mesmo tempo em que quantum esta para o campo da molecular.

Algumas coisas acontecem e eu não consigo respirar como um bebê a perder o fôlego por qualquer motivo simplório no cotidiano.
Eu não respiro muito bem de fato e nem me preocupo muito com isso acho uma grande tolice essa coisa life de vida. É claro as duas palavras significam a mesma coisa mais elas representam mundos e o fora delas representam coisas distintas também. E por falar na maldição da vida, sabe que eu tenho um livro sobre a vida dos vampiros, calma, eu não acho que vampiros existem mais temos algo em comum com essa Persona vampírica também somos amaldiçoados pela vida. E estamos mortos em vida…..
As pessoas não sabem que existo, não estou aqui para ninguém e ninguém está aqui para mim. Parece que nada se encaixa com o quanto que meu corpo aguenta. E quando sinto um pouco da horrorenta life que comprei nas prateleiras, no outdoor e me (re)encontro no auge de uma autenticidade, tenho certeza estou vivo na hipocrisia absurda de uma existência que não existe. Em um dentro e fora que blasfema sobre um eu. O conhecimento explora demais o território que nem o eu mesmo vasculhou e quer saber não estou interessada. Minhas escrita, palavras e frases estão bloqueadas porque sei muito sobre elas mais do que deveria para utiliza-las como criação e desdobramento do que não sou eu e que não confunda o que é do outro ser ou não. Pois isso são meras confusões da linguagem. Esta que me precede e que só consigo viver e falar sobre esta. Eu preciso que exista dois mundos e duas possibilidades para cada um desses mundos que se colocam por isso dizer se estou morta ou viva é muito importante. Pensar no entre a morte vida é assustador. Eu poderia lhe explicar que nesse momento meu coração começa a bater mais forte seria uma problema pois eu não tenho órgãos. E então se não tenho porque a necessidade em explica-lhes o que vem de mim? Eu senti algo de fato! E então? Sentir algo não me obriga sair por aí dizendo sobre esse algo que sinto. Eu usei o verbo sentir talvez nem seja o caso. Infelizmente a linguagem é limitada não consigo enunciar nada muito importante pode até ser que consiga mas nesse momento não. Então por enquanto vou sair por aí vomitando. Dizendo sobre tudo aquilo que não quero dizer. Falar altas barbaridades pois só preciso gesticular meu maxilar todos os dias, se bem que beijar um outro seria uma atividade muito melhor que a fala. Mas perco toda minha respiração em beijar alguém. Por alguns instantes parei de escrever bom dialogava sobre alguma conjuntura politica nada muito importante eu nunca entendo porque a concepção de politica é tão distante do micro, do sujeito, do local. Talvez porque o micro, o sujeito e o local seja sempre relativo e a politica é algo muito concreto, duro e real. Estou percebendo uma dicotomia em tais idéias, eu sou um ser muito pouco criativo e ainda vivemos em 2012. A selva de pedras é tudo que temos.
Tem dias que é isso, eu não quero fazer completamente nada e estou cansada das notícias e leituras pesadas para mostrar a outros o que vejo do mundo estou casada de me modelar. A história das coisas nunca me cansa mais o quadrado fechado quebrado para o pensamento sensível me deixa completamente cansada. Sabe estou com muita falta de ar. O ar em São Paulo é horrível. E adoraria ficar aqui falando sobre o efeito estufa e a poluição a a droga da humanidade estupida que de vez construir uma sociedade menos estupida só faz merda com suas leis e cidade horríveis. Mais o que eu quero também é me colocar dentro disso pois a cidade é uma construção minha. E eu permito que os prédios sejam sujos e feios ao invés de pintar lhes com arte, apesar que eu não poderia sair por aí primeiro tenho mais o que fazer trabalhar, estudar, ser alguém na vida. E segundo não posso intervir tanto assim na cidade na real eu não poderia pintar uma parede de um prédio se eu quisesse. E jamais teria grana para as tintas. Nossa quantos entraves para ecoar minha voz na cidade tenebrosa. Eu nem me importo muito pelo que escrevo, escrever é um processo que me desfaz no que não desejo mais dentro de um eu que não existe. Quando sinto minha volta tudo me parece tão estranho, eu sei que é complicado utilizar ‘tudo’ ‘nada’ ‘nunca’ ‘sempre’. Mas prepotência e arrogância são bons apelidos então posso falar no infinitivo sempre que quiser a escrita é nesse momento, e por mais que minha mente sinta necessidade de demonstrar quaisquer coisa não faz sentido controlar a si mesmo para escrever. Faz sentido estar contra si, o si vem só mesmo lugar que a mente. Por falar em si eu gostei muito da ideia de contar as história dos objetos. Imagine só o que uma cadeira poderia dizer sobre si mesmo, acho que muitas coisas. Um cadeira de um ônibus público poderia dizer que já milhares de pessoas já sentaram nela, os tipos de pessoa, seus cheiros, suas ansiedade no caminho. O que será que eu poderia dizer sobre minha história? Quantas pessoas já sentaram em mim? Mas será que contar minha história é dizer para o que que sirvo? Talvez eu não sirva para nada! Eu sempre tento servir para alguma coisa. Gosto de ter uma função em tudo. Já pensou viver sem fazer nada? O que eu tento descobrir com todas essas questões? Me esqueço que não há nada a ser des coberto, des velado. Gostaria de destituir da minha ideia de mim, de minhas funções. de minha, de. A desaparecer da Ideia. Em aparecer logo no desespero de alguém que não mais respira sem saber se é pelo ar ou nem ao menos se importar com uma ideia de ar. des tituir me da ideia. Não preciso desta pois eu posso ver, ouvir, sentir de diversas formas o mundo-eu todos os dias.

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um teatro inefável

Constantemente ao lermos ou escrevermos algo pressupomos que nele estará registrado fatos. Como o que aconteceu seus registros e o que o fizeram acontecer. Do que se trata e qual é o motivo para existir e como foi pensado e elaborado. A questão é que nesta publicação você encontrará fragmentos que fazem parte da nossa vida e que também foram acontecendo. Primeiro porque o acontecimento é sempre maior do que os registros possíveis a se fazer, pois o que acontece na vida transborda e extrapola a toda sistematização de si mesmo. E segundo porque a linguagem tem seu próprio mundo, onde podemos mergulhar e fazer aparecer desdobrado àquilo que nem sempre aparece e é exatamente isso que quero mostrar aqui, esse texto foi escrito após o coletivo de Jovens Feministas em São Paulo iniciarem uma busca por linguagens diferentes para fazer política.
E a primeira linguagem a qual recorremos foi a teatral. Com a ideia de acordar nossos corpos, considerando que é no corpo onde esta o registrado a memória das opressões vivenciadas. Utilizamos o Teatro do Oprimido que foi elaborado por Augusto Boal para experiência.
Contudo, Entretanto…
Com tudo se faz necessário um espaço onde essa linguagem, a do corpo, pudesse trazer suas memórias vezes doloridas e invisíveis. E para isso é sempre necessário criar um próprio palco com fragmentos da realidade que pouco se vê, mas que também não esta escondida e só não se observa por pura estratégia de sobrevivência, talvez.
Entretanto não podemos contar-lhes tudo o que foi vivido, pois nem todas as coisas que nos aconteceram são visíveis e possíveis de serem ditas, mas posso dizer que somos todas outras nesse momento e que é possível saber por onde o potencia corre.
Com tanto que não nos reunimos com a ideia de falar sobre nossas pautas políticas de forma pragmática como fazemos nos espaços das conferencias de mulheres, de jovens, de LGBTT. Estes espaços têm sem dúvida a sua importância. Mas não podemos negar o quanto são cansativos e frustrantes ao passo que não somos nós quem decidi a efetivação dos debates e pautas que consideramos relevantes. Controversas da democracia, que discutirei mais adiante. Nesse sentido continuamos nos espaços onde gritamos no travesseiro, onde nossa voz é abafada, e depois não mais importa porque gastamos toda nossa energia e folego na direção errada.
Entre tudo é muito difícil escrever, entrar no campo da linguagem além do vivível e dizer sobre tudo aquilo que já é difícil nesse momento histórico, que tudo parece perdido e acabado, e o que nosso corpo demonstra, e nossa possibilidade de sujeito político e nossas potencias. E mais do que isso o investimento social que aparece como um espaço da liberdade mais murmura a repressão de uma força histórica que caí fúnebre em nossas costas nos perguntando o que é ser mulher? Jovem? Nesta cidade cinzenta?
E o que importa é algo muito singular que não se permite mostrar que não esta apenas ligada a nossa situação categoria, individual ou individualizante, mais que nos aparece como algo bem singular que se efetiva a partir de algo muito maior do que cada uma de nós, que nos excede por todos os lados. Isso que esta para além de nós mesmo e que passa por todas nós, esse algo grande, é o que vivemos.
O processo de criação do Com tudo entre tanto acabou em uma peça teatral que nunca foi apresentada, nem escrita. Mas foi produzida no decorrer de um ano, vários debates, leituras, atividades com o corpo. O que evidencia varias vidas não vividas que não se conta. E de potencias escondidas que não se busca encontrar, mas que na estética do oprimido se vê porque a memória esta nos nossos corpos que podem produzir uma máquina do aborto, a violência domestica, a fábrica da maternidade enfurecida na solidão, um jardim da loucura nas salas do telemarketing, uma adolescência cheias de marcas a reproduzir, e o príncipe encantado que nunca chega e por fim todas somos a tripla jornada….
O que estamos fazendo?
Somos costureiras e de maio até dezembro de 2012 nos encontramos todos às sábado nuas nas mãos levávamos nossos retalhos, pouco a pouco, pedacinho por pedacinho se juntavam um ao outro. Alguns eram muito feios e esdrúxulos, outros tinham sido batido na máquina muitas vezes para serem levados limpinhos limpinhos para esse encontro, mas não adiantava era nos muito claro por onde esse trapinho foi passando, seus rasgos, seus furinhos e suas cores desbotadas.
Aos sábados estávamos sempre muito cansadas, pois nossas semanas estavam sempre preenchidas por oito horas por dia de trabalho remunerado, quatro horas na Dutra, na Marginal tiete, no ônibus e no metro. Mais algumas horas na faculdade. E mais algumas horas com a arrumação na casa. E nos horários de tranquilidade, de madrugada, fazemos as unhas, a leitura daquele livro que adoramos, investigávamos mais sobre o teatro, escrevíamos a nossa peça.
Inicialmente não sabíamos o que poderíamos construir com cada um desses pedacinhos de pano ou mesmo se faríamos um belo vestido, uma toalha de mesa ou uma boa cortina para proteger nossas casas das poeiras da cidade.
No fim percebemos que não importava o resultado final o que desejávamos mesmo era fazer um tecido. Esse todo dos trapinhos poderia nos servir para qualquer coisa e ter qualquer função. A questão é que desejávamos estar junto e esse tecido seria apenas uma desculpa para esse encontro tão difícil, ardo, sem espaço ou razão.
Com isso criamos algo importante uma peça, um tecido, com vários pedacinhos de nós e de várias outras mulheres que não puderam estar conosco naquele momento.
Nosso corpo-morto então pariu vida que, ao invés, de ser expelida da própria máquina permaneceu nela a criação então foi o próprio processo de dar vida a si mesmo. Damos-nos conta, enfim, dos nossos ossos, da nossa potencia.
Levantei do sofá e percebi que era uma mulher-esqueleto senti a vibração desde o calcanhar no chão até o des-alinhamento da coluna movimentei um dos pés para frente e caí. “Quem não se movimenta não senti as correntes que as prendem” visualizei debaixo da estante a Rosa Luxemburgo que havia sido jogada. Mas ela estava ali presente tanto como os nossos ossos.
O corpo paralisado, preso, esticado no chão. Cada pedacinho deste corpo gigante estagnado por fios que nos prendiam anos a fio. Esse fio retocado nó por nó da historia, da medicina, da psicologia todos esses saberes falantes….
E o ponto para costura esse lindo tecido de retalhos, chamasse nó das opressões. Vocês sabem costurar? Vamos fazer?
Nesse caso tecer essa peça, esse encontro, esta veste é o mesmo como elaborar uma escrita de um corpo-múltiplo, que morde a maça do “pecado” ou do prazer, que encontra um milhão de Elas, as caçadoras numa noite escura da violência que procura seus ossos, aqueles que pariram o aborto, aquelas que abraçaram a rejeição do corpo-morto mais que conseguem ver florescer um jardim da loucura que promete um grande abraço inesperado, e nas dificuldades do trabalho domestico e do cuidado da solidão às trabalhadoras exploradas. E que guarda em suas entranhas o útero que sempre sangra
E o mais belo é que essa história não é “Una”, pois cada uma de nós a registramos da nossa forma. Então seria uma escrita de um corpo-multiplo uma história da multiplicidade de nós, que estamos vivendo. No dia da apresentação a diretora, e todas as atrizes, brigaram, não apresentaram e, além disso, acabaram com o coletivo.

 

Na primeira lua inteira de 2012.

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Limitações da linguagem. Parte II

Escrever é tecer! Sendo assim um texto seria um enorme tecido, onde as palavras de formam. E ficam belas entrelaçadas umas as outras. Mas para que servem os tecidos? Se não para esconder, o corpo, algo de mais verdadeiro, tocável, como sentidos, o prazeres, as dores. Há uma infinidade de outras coisas não codificáveis um campo altamente complexo, intocável, um milagre, e irreal.
Na escrita os verbos são conjugados isso faz com que eles sejam alterados não mais como fato, acontecimento e sim como um simples enfeite peculiar. E escrita tem propriedade, ou seja, não importa o que ela diz. Mas quem a escreve. Com tudo é impossível escrever sem conjugar verbos! Logicamente…Assim como é difícil ler quando não sabemos quem é que vós dirigis um mundo.

Há realidade é composta pelo que direcionamos os nossos olhos a imaginar. Um mundo descrito que nos abafa, nós impossibilita a existência. O que vemos nos descreve o que temos enquanto caminho para seguir.

Como resistimos. Porque a vida se estrebucha para ser. Assim como dobramos a linguagem, destruímos a moral, e passamos pelo o caos da invenção. Até percebemos que não nos importamos com as coisas, mais com pessoas-coisificadas e objeto-personificado.

Todo ser é um milagre da existência. Todas as pessoas e individuada pelo mundo de coisas que as envolvem. E os objetos são construídos como obras de arte. Então se eu tenho um quadro de um pintor famoso da minha sala faço parte do mundo da arte com o qual aquele quadro me conecta, e ele define minha interação, quem estará ao meu redor, assim como definirá o que delimita minhas práticas de existência. Por isso, é mais importe hoje o que as pessoas têm, ou seja, que mundo as pessoas conseguem consumir para que se forme um individuo, um si mesmo, particular do que acessamos do que de fato o que elas são.

O convívio, os vetores, as aproximações, a linguagem, delimita o que sentimos. Logo, o sentimento seria algo extremamente racional produzido pelo ambiente em que estamos inseridos? E sentir faz parte de uma produção-maquinada do que podemos ver limitados pelo mundo que os objetos em nossa volta produz? Se, é isso, a razão, uma parte infinitamente pequena, e pouca desenvolvida de nós. o que somos? E o que é esse que é, o ser, de nós?

A vida como potencia, é o ser, a explosão do que se deseja atualizada na realidade? A virtualidade é o que esta na superfície? Atualizar é jogar para o atual o que desejamos e transforma-lhe em imanência? Encontrar a si mesmo não é possível, a não ser que desejamos a atualidade que já esta morte, pois é indesejável. Logo, ultrapassar o que se é, é uma negação de si, um passo da invenção, que é uma forma de tornar-se a si inventado por si mesmo. É um si mesmo que se inventa. E sem invenção não somos, nem o si mesmo, porque este não existe, e não temos a possibilidade de inventar um si mesmo, pois nos falta sentir o desejo de existência de um ser.
Quem pode ficar tranquila com uma existência se a desconhece enquanto um eu? Ou outro? Tranquilizar-se com as possibilidades que são infinitas, porque nós a inventamos. Com o que pensamos. Com o que desejamos cuidar.

décima lua crescente de 2009

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Limitações da linguagem. Parte I

Escrever, construir, isso eu não, como me apaguei a essa tolice?
Afinal viver já me toma todo tempo.
Faz-se necessário apenas à técnica para a manutenção da vida.
Técnica negada, dependendo da classe socioeconômica, ou das desigualdades regionais, onde estão claramente dividida, capital, periferia, e interior. Até mesmo pela capacidade de gestão de um município a outro, considerando seu porte, e expertise da administração. (Isso fica difícil não evidenciar nos códigos linguísticos!)

é tudo.

Signos,

 

Décima lua nova de 2009

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16…

16, nas férias de julho.

Aos 16 anos eu já não ficava muito em casa, não me lembro muito bem porque, ou até me lembro mais dói tanto que prefiro nem escrever.
Meu refugio era a escola tinha um projeto que era possível eu fazer algo de útil na vida, cuidar da sala de informática. Então ficava na escola o dia todo, as vezes, até a noite, na época eu estudava de manhã.
Na minha casa morávamos eu, minhas três irmãs, e minha mãe. Por um período minha mãe que tinha um namorado, que tinha quase minha idade, começou a morar em casa. Comecei a fazer reclamações recorrentes de que ele me olhava, e que não gostava da sua presença, quando estava dormindo, um dia vi ele mexendo no coberto, quase me descobrindo, mas estava com tanto sono que passou, achei estranho e ficava me perguntando – O que ele queria na minha cama?. E minha reclamações a para minha mãe persistiam, ela não dava muita atenção, e falava que eu não tinha muita certeza. E eu até aceitava isso mesmo. Talvez eu tivesse tendo pesadelo sabe lá. Certo dia estávamos de mudança e fui me trocar no quarto, quando vi ele estava me observando, tive muito medo, mas então olhei fixamente nos seus olhos e ele saiu, não sabia o que fazer, só consegui lembrar que estávamos sozinhos e que em vários casos de estupros os homens matam as mulheres depois. Sai correndo de casa, meu corpo por dentro estava muito gelado. Liguei para o Henrique na época meu namorado, contei a historia, e disse a minha mãe que precisava conversar com ela pois ele não saia de perto dela nenhum momento me sentia quase vigiada, tanto que para irmos para outra casa ele foi dentro do mesmo carro, e disse baixinho para minha mãe que queria contar lhe algo. Quando enfim consegui contar e ela me perguntou, muito desconfiada, com a certeza de alguém que ouvia algo mentiroso – Você tem certeza?
E eu disse: Sim, Tenho!!
E de prontidão ela respondeu: Eu disse para você ter modos menina, não ficar andando quase pelada!! E eu acho muito estranho essa história pois se ele quisesse te ver, ele veria o tempo todo com essas roupas que você usa.
Com muita dor eu só via um caminho e disse – Mãe se ele não for embora daqui eu vou!
E ela me disse quase sem pensar – Ele não vai embora, mesmo porque acho que você esta mentindo só porque não queria mudar de casa.
Eu muito abalada respondi – Vou embora, peguei algumas coisas e fui para a casa da minha avó. E para todos que contava diziam quase o mesmo. Por um tempo até comecei a pensar – Será que é mesmo? Talvez eu estivesse enganada! Ele só olhou por um momento sem querer!
E isso foi o mais perverso comigo mesma, pois sabia a verdade, mas por algum motivo quase a esquecia para acreditar na verdade que os outros me contavam.
Uma semana depois na casa da minha avó, descobri que estava grávida. E lembrei no mesmo instante o quanto minha mãe foi tortura pela gravidez na adolescência e por criar as filhas sem a ajuda do pai. E inclusive já sabia que minha avó não queria nem eu por mais tanto tempo na casa dela quanto mais com um bebe. Respirei muito fundo tentando encarar a situação e liguei para o Henrique, conversamos e para ele foi tudo bem que ficássemos na casa dele, foi um alivio no momento, ninguém poderia me torturar, eu não daria trabalho para nenhuma pessoa mais. Muito rápido eu poderia trabalhar, e cuidar da criança e só. Fiquei na casa dele até Maria Julia ter seis meses, logo comecei a trabalhar e aluguei uma casa. Eu tinha 17 já! Os conselhos eram para que eu não fosse a lugar nenhum ficasse na casa do Henrique que logo resolveríamos de ficar juntos, deixasse para estudar mais tarde pois no momento a Maria Julia precisava de mim. E trabalhar talvez, mas não segui esses conselhos foi bem difícil não, porque sempre sentia que estava fazendo algo errado. Abandonando minha filha ou algo do tipo.
Bom finalizei o ensino médio, e estava em dúvida entre pedagogia e algumas área de humanas. Mas logo depois que fui morar sozinha era um desespero para conseguir fazer algo.
Pois tinha que pedir para alguém ficar com a Juju, e as pessoas faziam sempre boca torta, estampando no rosto – Ué mas você não queria sua independência, e não quis ter filho, agora fica pedindo minha ajuda. O Henrique achava que pagar a pensão, e deixar a menina de quinze em quinze dias com a mãe dele tava mais do que bom como pai. E na nossa realidade tava mesmo!
Logo depois consegui um trabalho que poderia levar a Maria Julia, me sentia muito feliz por sair daquela realidade, feia, com pessoas furiosas querendo que tudo desse errado.

Segunda lua nova de 2009

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