16…

16, nas férias de julho.

Aos 16 anos eu já não ficava muito em casa, não me lembro muito bem porque, ou até me lembro mais dói tanto que prefiro nem escrever.
Meu refugio era a escola tinha um projeto que era possível eu fazer algo de útil na vida, cuidar da sala de informática. Então ficava na escola o dia todo, as vezes, até a noite, na época eu estudava de manhã.
Na minha casa morávamos eu, minhas três irmãs, e minha mãe. Por um período minha mãe que tinha um namorado, que tinha quase minha idade, começou a morar em casa. Comecei a fazer reclamações recorrentes de que ele me olhava, e que não gostava da sua presença, quando estava dormindo, um dia vi ele mexendo no coberto, quase me descobrindo, mas estava com tanto sono que passou, achei estranho e ficava me perguntando – O que ele queria na minha cama?. E minha reclamações a para minha mãe persistiam, ela não dava muita atenção, e falava que eu não tinha muita certeza. E eu até aceitava isso mesmo. Talvez eu tivesse tendo pesadelo sabe lá. Certo dia estávamos de mudança e fui me trocar no quarto, quando vi ele estava me observando, tive muito medo, mas então olhei fixamente nos seus olhos e ele saiu, não sabia o que fazer, só consegui lembrar que estávamos sozinhos e que em vários casos de estupros os homens matam as mulheres depois. Sai correndo de casa, meu corpo por dentro estava muito gelado. Liguei para o Henrique na época meu namorado, contei a historia, e disse a minha mãe que precisava conversar com ela pois ele não saia de perto dela nenhum momento me sentia quase vigiada, tanto que para irmos para outra casa ele foi dentro do mesmo carro, e disse baixinho para minha mãe que queria contar lhe algo. Quando enfim consegui contar e ela me perguntou, muito desconfiada, com a certeza de alguém que ouvia algo mentiroso – Você tem certeza?
E eu disse: Sim, Tenho!!
E de prontidão ela respondeu: Eu disse para você ter modos menina, não ficar andando quase pelada!! E eu acho muito estranho essa história pois se ele quisesse te ver, ele veria o tempo todo com essas roupas que você usa.
Com muita dor eu só via um caminho e disse – Mãe se ele não for embora daqui eu vou!
E ela me disse quase sem pensar – Ele não vai embora, mesmo porque acho que você esta mentindo só porque não queria mudar de casa.
Eu muito abalada respondi – Vou embora, peguei algumas coisas e fui para a casa da minha avó. E para todos que contava diziam quase o mesmo. Por um tempo até comecei a pensar – Será que é mesmo? Talvez eu estivesse enganada! Ele só olhou por um momento sem querer!
E isso foi o mais perverso comigo mesma, pois sabia a verdade, mas por algum motivo quase a esquecia para acreditar na verdade que os outros me contavam.
Uma semana depois na casa da minha avó, descobri que estava grávida. E lembrei no mesmo instante o quanto minha mãe foi tortura pela gravidez na adolescência e por criar as filhas sem a ajuda do pai. E inclusive já sabia que minha avó não queria nem eu por mais tanto tempo na casa dela quanto mais com um bebe. Respirei muito fundo tentando encarar a situação e liguei para o Henrique, conversamos e para ele foi tudo bem que ficássemos na casa dele, foi um alivio no momento, ninguém poderia me torturar, eu não daria trabalho para nenhuma pessoa mais. Muito rápido eu poderia trabalhar, e cuidar da criança e só. Fiquei na casa dele até Maria Julia ter seis meses, logo comecei a trabalhar e aluguei uma casa. Eu tinha 17 já! Os conselhos eram para que eu não fosse a lugar nenhum ficasse na casa do Henrique que logo resolveríamos de ficar juntos, deixasse para estudar mais tarde pois no momento a Maria Julia precisava de mim. E trabalhar talvez, mas não segui esses conselhos foi bem difícil não, porque sempre sentia que estava fazendo algo errado. Abandonando minha filha ou algo do tipo.
Bom finalizei o ensino médio, e estava em dúvida entre pedagogia e algumas área de humanas. Mas logo depois que fui morar sozinha era um desespero para conseguir fazer algo.
Pois tinha que pedir para alguém ficar com a Juju, e as pessoas faziam sempre boca torta, estampando no rosto – Ué mas você não queria sua independência, e não quis ter filho, agora fica pedindo minha ajuda. O Henrique achava que pagar a pensão, e deixar a menina de quinze em quinze dias com a mãe dele tava mais do que bom como pai. E na nossa realidade tava mesmo!
Logo depois consegui um trabalho que poderia levar a Maria Julia, me sentia muito feliz por sair daquela realidade, feia, com pessoas furiosas querendo que tudo desse errado.

Segunda lua nova de 2009

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