Convite à resistência de uma não-vida cotidiana

um texto. um tecido. um corpo. uma vida

Um mês e meio de pura doença em um lugar possível e eu começo a juntar muitas linhas. Primeiro porque me sinto completamente fragmentada como se estivesse aos pedaços. E depois percebo que realmente venho escrevendo como uma louca. Uma escrita que não faz sentido nem para mim mesma. E depois percebo que não era bem isso, a questão é que esta recortada. Como se eu estivesse em um quarto, que não tem nem porta nem janela, e tenho problemas de visão. No quarto, no quadrado, tem muito linhas repicadas espalhadas. Começo a juntar pedacinho por pedacinho. Enfim tenho um fio. Desejo fazer um novelo. E tecer algo com tais pedaços de linhas. Além disso, não sei de qual matéria é comporta essas linhas, parecem fios, algumas são de algodão, tenho quase certeza! Outras parecem tecidos humanos, quase uma meleca. Outros são quase invisíveis e moles iguais uma teia. Te toda forma não sei o que posso produzir o que posso tecer com essas matérias. Vou olhar no final. A não poderia deixar de lembrar o principal, como minha visão é muito ruim uso óculos. Meus óculos são teorias, autores, conceitos dos mais diversos.
Então coloco meus óculos e começo a juntar as linhas, tecidos, o quantum….
Deleuze em Crítica e Clínica descreve sua ação de “Escrever como uma questão de devir, sempre inacabado, sempre a fazer-se, que extravasa toda a matéria vivível ou vivida. É um processo, quer dizer, uma passagem de Vida que atravessa o vivível e o vivido. A escrita é inseparável do devir: ao escrevermos, devimos-mulher, devimos-animal ou vegetal, devimos-molécula até devir-imperceptível”. Neste caso seguirei matando o anjo do lar, com o sobrenome, eu. Entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa o entender. Entender é sempre um pressuposto, uma limitação, afinal entender. Determinados planos de compreensão, condicionados pela histórica ou época que vivemos ou informações que acessamos. É como pensar o limite daqueles que inventavam o mito para inventar a ciência, ou um físico clássico para entender as partículas subatômicas.
Há limitações na linguagem. No entanto é necessário um lugar, onde o eu individuo seja excluído, e mesmo assim tenha uma comunicação possível, cruzar a escrita para que se possa dizer. Sobre o nós, o eu, o ser. Por Saber. Eu não sei. Não é filosofia. Não faz parte da arte. Não encontramos nas passagens históricas. É vida preste a apagar-se. É vida! Não sentir se atuante na historia. Ou romper momentos literários. Escrever parecia uma paralisia. Mas se não escrevo o meu corpo move se de mim. E passo a não me ter mais. É uma limitação escrever, tudo aquilo do que nada sei. Porque saber é uma limitação. A linguagem é a forma, o vácuo onde nada se toca o amar é um processo do corpo que também não é tocável apesar do encontro. O que se encontra não é matéria? O impensável não se torna imagem? Mas existe. Não tentarei responder como é possível. Escrevo para permanecer viva, existindo. E não tem a ver com escrevo logo existo, nenhuma destas besteiras Cartesianas. Pois há quem viva sem escrever. É tudo linguagem:
O verbo no infinitivo refere-se a uma substância. Algo que se é. O verbo na ação é. Quando se diz: amor refere se a algo ou a alguém. Amar é pontualmente no agora pode se referir a uma imensidão. Um prefixo é sempre uma prática:

Amor é um livro, amar é vida, e sexo é a pratica.
Amor é um, amar pode ser coletivo….
Amar é forte, é potente, é intimamente como o pulsar do coração, como a energia ao quebrar o núcleo de átomo.
Demonstrar a limitação da linguagem quando se escreve e negar o homem da sociedade quando fazemos força no parto e sentimos prazer com isso.

na segunda lua crescente de 2011.

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