Dia das mães: um salve às mães periféricas e lutadoras!

Bom depois de dois anos de pedir desculpas pelo incômodo de dizer sem alegria no dia das mães. Tenho que dizer que reitero o que disse:Violencia do estado contra as mulheres

“Desculpem o incômodo mas com tantas violências cotidianas, em nossos partos, toda a exclusão que sofremos com relação aos nossos direitos, à moradia, educação, saúde , transporte, integridade física, à autonomia e etc etc…ou seja, somos deixadas para morrer pelo Estado. Abrigadas pela segurança da posse de nossos maridos, filhos ou namorados. Sofremos todos os dias com o medo e a insegurança. Somos violentadas pela sociedade que aponta “você deve ser uma boa mãe!”, e isso significa se matar todos os dias para fazer milhares de coisas, ser escrava do trabalho domestico e do cuidado, ainda sim sair bem na foto igual as mães lindas-brancas-loiras-felizes que aparecem em quase toda publicidade.
,é preciso lembrar das curandeiras, das claudias, das mães torturadas, das mães de maio, das marias, das anastácias…”

Mas desta vez sem pedir desculpa é com soco da porta e pé no peito!! Não mudo de opinião, só estou mais convicta. Porque tem gente morrendo. E os verdadeiros agressores que são o estado, a polícia, os cunhas, e Temers e a cultura de violência continuam fortalecidos andando pelas ruas.feliz dia das maes e pra quem pode

Em 2015 fui interpelada por uma grande injustiça. E ressalto, o quanto “a justiça é inimiga das mulheres” com um texto que fiz a pedido de um amigo. Que narrava o que estava acontecendo comigo pessoalmente:

Há algum tempo venho me escondendo por conta da Violência Domestica, da maternidade, do espaço público …Sabe porque? Estou em um processo judicial pela Guarda da minha filha, Como tudo começou: Até 2013, minha família era: amigos que conheci na universidade federal de São Paulo, Renato, Lais, Gabi e Ana e Anna Julia (minha filha). Morávamos todas num mesmo apartamento no Pimentas. No ano de 2014, a universidade por ser um campus do REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), assim como as diversas instituições da educação deste período, nasceu com muita precariedade, sem prédio, sem creche, sem biblioteca, sem bandejão e sem moradia estudantil, tive que me mudar de forma provisória para o centro de Guarulhos. O que para os estudantes e professores de classe média alta foi ótimo.
Para nós que crescemos na periferia foi problemático, o aluguel e o custo de vida é bem mais caro. Fora que o trajeto da periferia de Guarulhos até o centro, por ter apenas uma alça de acesso e por ser extremamente distante, dificultou nossa permanência: ou no Pimentas ou na universidade. Eu, no caso, que tinha que refazer a logística também da creche da Anna Julia, que só atendia as crianças por 3 horas e 45 minutos. Que é o tempo menor do que meu horário de aula. Vi que a logística seria impossível para nós.
Nesse momento, por conta de toda a dificuldade. E por ter sempre cuidado dela sem a ajuda ou cuidado do pai, percebi a necessidade de deixa-la com ele. Mesmo porque, eu além de ser sem teto, porque pago aluguel e ainda preciso dividir com outras pessoas, fiquei sem moradia.


Foi exatamente neste momento que voltei para Itaquera e no primeiro dia que cheguei já tomei um susto, pois todo o bairro estava sendo modificado para a Copa do Mundo. E até chegar a casa que minha mãe mora de favor, me encontrei com mil famílias que estavam desesperadas gritando “a tropa de choque esta chegando”, foi mais uma reintegração de posse do legado que a copa deixava.


Fiquei nesses dias com essas famílias. E procurei contato com movimentos organizados, pois o Caraguá leste, tinha sido uma ocupação espontânea e eu não sabia muito como ajudar. Foi nesse momento que conheci o MTST e neste ano, morei na Ocupação Copa do Povo onde fiz luta pela minha moradia. Mas, quando saímos do terreno estava animada a contribuir para mais mulheres como eu, conquistarem suas moradias. Neste sentido, fui ajudar fazer a ocupação Carlos Marighella/Carapicuíba.


Com muita dificuldade, me planejei em 2015 mais uma vez em trabalhar para pagar um aluguel e como tinha combinado com o pai, ela voltaria a morar comigo. Questões que eu não avaliei: Na minha trajetória de relacionamento e gravidez na adolescência tiveram dois casos de violência domestica que chegaram à agressão física. E no final de 2014 uma outra.


Então não se tratava de alguém que eu poderia contar, mas também seria muito ruim para a minha filha morar na ocupação comigo. Nesse momento, o pai pediu a guarda da minha filha argumentando que eu seria uma militante de movimento social e que expunha minha filha a violências policiais. O que é um absurdo, porque se existe violência policial, estes que são responsáveis, e ademais, todos que conhecem o MTST sabem que é um movimento sério e pacifico que nunca iria expor uma criança a tais terroristas do Estado. Dentro do movimento temos uma postura de cuidado com as crianças.


O pai, agressor, esta hoje com minha filha legitimado por uma liminar que usa os seguintes termos: “a genitora que é militante de movimentos sociais o que a considera não apta à execução de sua maternidade”. E mais, conseguiu estipular visitas assistidas por me declarar de autorrisco para minha filha. Ou seja, tenho que ir na casa do agressor para ver minha filha de quinze em quinze dias. O que significa estar distante e não conviver com minha filha como sempre convivi. Mesmo quando ela não morava comigo.


Primeiro absurdo: o agressor conseguiu uma guarda provisória sem que eu tivesse direito de ampla defesa. Segundo: A minha militância e a fé em um mundo onde a vida digna para as mulheres e a periferia tenha o direito de morar e fortalecer a execução da minha maternidade. Terceiro: No processo a uma desqualificação da minha pessoa por eu ser militante, feminista, por eu acreditar que o cuidado das crianças deve ser compartilhado com os genitores e não só de responsabilidade das mães, por eu não ser casada, e, além disso, por eu querer estar no espaço público.
Tudo isso é um extremo abuso e reforça o conservadorismo que acredita que só um tipo de família deve ser respeitada, e reforçar a opressão histórica sobre as mulheres que devem ser passivas ao enclausuramento domestico, a uma casamento com a violência domestica, e com desfacelamento de sua vida de culpa sobre todas as funções que devem cumprir na maternidade. E por isso criminaliza todas as pessoas que lutam.

Eu sou mãe solteira, militante do MTST, estudante e continuarei travando luta pelo meu direito de lutar e de existir enquanto um sujeito falante que apesar de todas as adversidade se mostra! Adversidade, porque toda vez que falo e que escrevo sobre esse assunto, as críticas, a pressão sobre o que eu penso e acho sobre o assunto é muito forte. Assim como o direito que tenho de estar com a minha filha que amo muito e que vem sendo paulatinamente violentada com esse processo julgado por homens brancos e ricos que se quer compreende os problemas sociais deste pais, assim como dos problemas que uma mãe solteira tem, assim como são preconceituosos.

Nesse sentido, e aproveitando a força das mulheres e dos movimentos sociais que se erguem contra o conservadorismo do congresso nacional e do Cunha e contra essa política econômica que reduz nossas vidas a migalhas. Para dizer que sou mais uma, sem medo de lutar! E enfrentar com o meu rosto por um avanço democrático e não retrocesso!

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Neste ano de 2016, vivemos um processo político bem complicado. Tivemos uma crescente onda de ódio e violência nos últimos anos que passaram por genocídio da juventude negra, a inclusão ao consumo que exclui a população pobre, negra e periférica da sua cidadania contraditoriamente. Caça as Bruxas, quer dizer, Impeachment dirigidos por corruptos. E ex militante da MR8, que pegou em armas para lutar pela democracia contra a ditadura, quando no governo tendo que executar retrocessos da lei antiterrorismo com Levi. Assim como cortes nos orçamentos que mais afetam a população trabalhadora e seus direitos…Enfim vai entender!!

Apesar desse cenário confuso e abominável. Chegamos ao lindo dia das mães, com direito a campanha de facebook ‘I s2 mom’ e muita publicidade, só que não. Quem senti o negro drama sabe que não dá para ser feliz!!

Apesar de tudo o que eu tenho de salve para esse ano:”SOMOS MULHERES E ALGUMAS DE NÓS MÃES, NOS RESPEITEM!!”

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