eu, mulher; e; o espaço, público 4- o suicídio

Entre idas e vindas, de Durkheim à Tocqueville, “passando” pela luz dos Frankfutianos dentre outros clássicos quaisquer, nascidos logo ali, na França… Em uma universidade pública na periferia de Guarulhos acontece um suicídio. O que demonstra esse ato de um corpo que não aguenta mais? O que exatamente nossos corpos não aguentam diante desta grande fábrica, a universidade? Ela que disciplina corpos, que mata nossa juventude e nossa inocente potência de que um outro mundo seria possível a partir de algo bem inventado como a reflexão. Ah ! Nossos problemas, nossas questões, nossas angustias….”A imensa periferia que murmura milhares de mensagens abafadas” . Hoje, as palavras de Jean François Lyotard criaram ecos ( ecoaram? ) na universidade quando nos deparamos com a morte de um jovem corpo que não aguentou. Não, não aguentamos mais. Os corpos não querem mais ser docilizados: Grande parte do pensamento das humanidades foi construido com sangue para evidenciar as contradições da modernidade: as guerras, as ditaduras, a exploração dos homens e mulheres. Hoje refutamos a ( refutamos o quê? tem que dizer o que está sendo refutado… ) quando precisamos avançar na crítica, aqui, na periféria sobre nossas questões. Ao passo que nos encontramos no interior desta escola de humanidades, lutando para manter a tradição da resistência, caberia uma pergunta: será que as humanidades foram domesticadas? O que significa o suicidio de um jovem, negro, gay, dentro de um centro acadêmico de uma universidade pública na periferia? A universidade não deveria colocar para si mesma essa questão afim de responder o que é a atualidade da própria universidade? Qual o lugar que ela se reserva para a reflexão do que somos, dizemos e pensamos – sobretudo em momentos de crise, quando a morte se enuncia no campus universitário? Certamente já é possível ouvir algumas desculpas, vozes que apontam para “fatos isolados e fortuitos”, como se o suicídio e a subjetividade não fossem também eles socialmente constituídos, como se a universidade fosse um campo neutro, onde cada um de seus atores não fossem afetados em seus corpos pelas forças e contradições que atravessam as relações de poder.

Mais um corpo negro, mais um gay, mais uma vadia, mais alguns…..E continuamos?. Por quanto tempo continuaremos a renegar nossas veias que são outras sempre abafadas, sempre. Nossos corpos doem, construímos novas periferias e ampliamos, deste modo, os limites da cidade. As cidades produzem vidas, para que as mesmas se matem. Mesmo assim nada disso importa, afinal, temos muitas avaliações a fazer para que mais um semestre acabe. E o que produzimos?

E qualquer que tenha sido o motivo do suicídio, vale a reflexão a respeito do lugar em que ela ocorreu: uma pessoa que “escolheu” pôr fim à sua existência num centro acadêmico, depois de uma festa, num lugar onde havia outras pessoas… Dirão que são coisas da “subjetividade” como se esta fosse uma espécie de armadura separando o sujeito de todo o social…dirão talvez que estivesse sob o efeito de drogas, mas se fosse isso, também isto não seria significativo? Qualquer que tenha sido o motivo, o suicídio no campus universitário nunca poderá ser encarado como um fato isolado. Talvez nunca possamos saber os reais motivos desse ato, mas podemos aventar a hipótese de um corpo que diz “não”… e ficaremos com as dúvidas: não para que ou quem? Não mais continuar a viver, e apresentar essa – escolha? decisão? – no depois de uma festa… qual o papel dos intelectuais, dos estudantes de humanidades frente a esse episódio? Talvez a inquietude oriunda dessa crise force os demais corpos a pensar aquilo que ainda não foi pensado, talvez se exija dos corpos que ficaram e ainda resistem, entender o que se passa na universidade, entre os corpos que nela se encontram, que formas de vidas estão sendo favorecidas pela universidade e que outras formas – como e de que forma – estão sendo abafadas, mortificadas, paralizadas…enfim, a universidade tem ou não sua cota de responsabillidade diante desse acontecimento? E mais: quem – ou que é – afinal, a universidade?

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